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Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

31.10.16

A Rapariga no Comboio - Viagem ao submundo humano


Maresia

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Hoje, terminei mais um emocionante livro: A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkins. E, nem de propósito, é uma excelente sugestão de leitura "halloweenesca". O suspense, os fantasmas, a morte, o medo, a perseguição,...está tudo lá! Um verdadeiro desatino!

O livro retrata as fragilidades e as psicopatias humanas. Mulheres marcadas e subjugadas aos seus companheiros e aos seus jogos sexuais. Homens sedutores e dominadores. Guardam-se segredos e passados, vivem-se farsas. Uma espécie de jogo, no qual os personagens avançam, sem nunca saberem quando surgirá a casa da morte e sempre na expectativa de serem brindados pela sorte. E neste jogo, quem ganhará?

Gostei! Agora sim, já posso ir ver o filme!

Happy Halloween!

 

 

28.10.16

Romanceando sorrisos


Maresia

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É tão bom quando nos agarramos a um bom livro, desligamos da realidade e nos embrenhamos pelas histórias, pelas vidas, pelas casas, pelos pensamentos dos personagens. Como que uma mosca que testemunha tudo sem darem por ela. Somos omnipresentes naquele universo paralelo.

Adoro a relação intimista que é a leitura. Ali ninguém entra. Aquele momento é nosso. Nosso e dos personagens que visitamos naquele momento. Não partilhamos sofás, nem comandos. E se for cativante o suficiente, trespassa-nos com os sentimentos que por lá pairam. Recordo livros que me provocaram calafrios, outros que me fizeram chorar, outros rir, mas os que mais gosto são os que me fazem sorrir. Sorrir :) Sorrir pelas histórias, pelos amores, pelos amantes, pelas amizades profundas, pelas famílias, pelos finais felizes. Adoro abrir um livro, respirar fundo e pensar aqui vamos nós, qual astronauta pronto para a viagem. E se gostei realmente, no final fica aquela angustiazinha de não poder mais acompanhar aquelas vidas. Que será feito deles agora?

Costumo reclamar com a minha mãe, ao ver o seu desatino com a televisão, a barafustar para o ecrã, dizendo-lhe "Mãe, é só uma novela!", "Mãe, é só um filme!". Mas na verdade, quando leio e me deixo machucar pelos problemas e tristezas fictícios, quando sorrio para os finais felizes...é só uma história.

E ao deitar, adormecer numa vida que não é a minha, embalada pelas letras, qual canção de embalar. Há lá melhor remédio para dormir...

24.10.16

Relógio sem corda


Maresia

Tenho saudades dos grandes.
Dos pais, dos avós, dos vizinhos.
Dos colos e dos abraços fortes.
Dos mimos e dos ralhetes.
Dos passeios e fretes.
Dos dias sem horas.

 

Tenho saudades dos pequenos.
Dos primos, dos amigos, dos colegas.
Das irmãs mais velhas.
Das brigas e das partidas.
Das apanhadas e das fugidas.
Das brincadeiras sem horas.

 

Tenho saudades de ti.
Da criança sonhadora.
Dos risos e das fitas.
Das cantigas e das histórias.
Das férias e das escolas.
Da minha vida sem horas.

 

Tique-taque tique-taque tique-taque

 

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14.10.16

Ida ao dentista - Desabafo de mãe


Maresia

Cada vez que levo os miúdos ao dentista sinto-me pessimamente. É como sujeitá-los a sessões de tortura pagas por mim. É vê-los contorcer o corpo, apertar as mãos e gemer sem fim. E eu, como mãe responsável que sou, deixo-os sofrer e não vou em seu socorro. Isto é horrível!  Serei só eu a sentir-me de rastos, dentro do consultório médico, a pedir aos meus filhos, qual claque da estomatologia, "Aguenta!", "Força!",  "Está quase!" e outras frases de coragem bem "mãesoquistas"?

13.10.16

O mundo ganhava cor


Maresia

Era o mundo do gira-discos e do Festival da Canção.
A mim não me eram autorizadas brincadeiras na rua. Mas isso não me incomodava. Depois dos trabalhos de casa, entrava no meu mundo de criança. Cantar e dançar ocupavam os lugares de topo. E recriava tudo! Atuações fervorosas, desde as "Doce" aos "Da Vinci", foi a loucura. Agarrada a um velho rádio preto fazia os melhores discos pedidos do bairro. E em casa dos meus pais operava cuidadosamente o gira-discos e era ouvir o genérico do "D'Artacão", o "Carlitos, Carlitos!", e como qualquer miúda, os "Onda Choque " e os "Ministars".
Em tardes de sossego e de pão com marmelada, embalada pela dança da minha avó a passar a ferro e pelo cheirinho a roupa lavada, do rádio saiam vozes radiosas e nasaladas a desejar dias felizes aos ouvintes, canções que contavam histórias, de melodias tristes e ritmadas. Recordo o histerismo inebriante dos Parodiantes de Lisboa e de como o frei Hermano da Câmara, a contrastar com o apaixonado Marco Paulo, faziam a minha avó rodar o botão do volume e a cozinha ganhar ares de festa.
Emoções maiores, só à noite, com o jantar cronometricamente preparado, para depois nos sentarmos a ver os brasileiros de vozes melodiosas a desenharem histórias inéditas de prender o coração e a alma. Recordarei para sempre o Roque Santeiro. Oh, mundinho aquele de homens e mulheres esquisitos a correrem pelas ruas e a cochicharem palavras estranhas que eu nem percebia.
A televisão a cores não trouxera cor apenas às caras sorridentes dos locutores e atores. Colorira o dia a dia dos portugueses e hipnotizara famílias inteiras em frente à caixa mágica.
Para mim foram tempos de mudança e são já memórias a misturarem-se. Passei da "Casa na Pradaria" para os mundos modernos de "MacGyver" e "O Justiceiro", precedidos pelo sempre fantástico Clube Amigos Disney. As melhores tarde de domingo do mundo!  
Ah! E os melhores desenhos animados do mundo viveram lá  em casa. "Ana dos Cabelos Ruivos", "Era uma vez a vida", "Era uma vez o espaço", "Candy, Candy", "Tom Sawyer" e tantos outros.
Foi a década mais doce, a da minha infância. Dias felizes e intermináveis, mas que num instante ficaram para trás.

11.10.16

Pintar os dias de verde


Maresia

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Há dias assim... apetece encher o peito de ar e pintar o dia de verde. Respirar fundo como quem refresca a alma, ouvir o vento na dança das árvores e vaguear por aí, sem horas contadas. E fazê-lo na melhor das companhias é delicioso.
Aos seus olhos este mundo verdejante ainda é mais imponente. As árvores são gigantes mascarados que têm relações privilegiadas com o céu, as folhas secas são responsáveis pelo outono e foram elas que chamaram o vento fresco para as varrer. Do sol, diz que está mais simpático, pois já não pede boné, nem obriga a corridas para a sombra.
Libertaram-se as pernas e a imaginação. Ambas correram desenfreadas pelo verde. Perseguições e caças imaginárias, em que os paus viraram espadas, setas e até bengalas, os caminhos de folhas, verdadeiros obstáculos escorregadios, que apelavam a maior destreza, e os maiores arvoredos, por certo, florestas negras que escondiam os piores monstros.
Enfim, como um passeio no parque se pode tornar numa aventura épica...E eu, espectadora atenta, mãe, vivi todas as emoções, protegi pela retaguarda, respirei fundo e refresquei a alma.

08.10.16

Anos 80. À descoberta da (minha) vida.


Maresia

Ao que parece vivia na capital, Lisboa. Aqui havia de tudo! E rezava a cantiga, que era a cidade mais cheirosa de todas. E eu "farejava" para lhe tomar cheiro e as vistas.
Desgraçada da família do interior que não tinha os tecidos do Grandela, as loiças da Pollux e os atoalhados dos Armazéns do Socorro. Mas isso não era nada! Ir ao circo no Coliseu e Pavilhão Carlos Lopes, dar milho aos pombos no Rossio e Restauradores e conhecer pessoalmente o mais simpático senhor de barbas brancas, na mais mágica época do ano, em pleno Chiado, isso sim, era a sorte grande de qualquer meninice. Aos meus olhos de criança nascera priveligiada e não percebia porquê. Tios e primos lá tão longe, em vidas de ruas direitas e tão vazias, e nós aqui, neste rebuliço de "sobe e desce" e "não saias daqui, que é perigoso".
Mas numa das visitas, à altura, extensa família alentejana, descubro que a aldeia da minha mãe era mais pequena que a Gulbenkian. Aquilo fez-me espécie... Talvez por isso, achei que era um mundo de brincar, fácil de descobrir e de conhecer todos os seus recantos secretos e acima de tudo, encantou-me pela liberdade. As minhas pernas eram livres de correr pelas ruas, a roupa pesava menos no corpo e o barulho que as nossas brindeiras e risos geravam era delicioso. Semelhante, só no recreio da escola quando lá entrei, mas aí, as pernas não se cansavam tanto. Naquela terra amarelada, nada era perigoso ou incómodo. Os vizinhos, os senhores e senhoras alentejanos, seriam surdos ou verdadeiramente amigos da criançada?!
Mas era como a casa de bonecas que guardamos a um canto quando já não podemos brincar. Não era para levar a sério, pois a minha vida não era aquela.
Em Lisboa, o meu coração e as borboletas do meu estômago agitavam-se com os longos passeios pela cidade com o meu avô, com as idas à praça com a avó, com as idas a Benfica com a mãe e com as idas à Feira Popular com o pai. Cada local tinha um personagem principal. E eu sonhava que era para sempre...

07.10.16

Desabafos biográficos de uma vida


Maresia

Corriam os finais dos anos 70, quando dei as caras por aqui. Portugal renascia dos cravos, mas permanecia sombrio e cinzento, como que ainda sob um céu carregado de nuvens Salazaristas. Pelo menos, aos olhos e aos ouvidos de quem espreita os registos da época e principalmente, pelas fotos que recheavam os álbuns lá de casa, provavelmente pelas roupas enfadonhas e papéis de parede de cores outonais que serviam de fundo aos sorrisos amarelos. Época longínqua na qual uma câmara fotográfica ainda causava um nervoso miudinho e que para muitos só saía da gaveta para momentos solenes ou dignos de registo. Não havia cá selfies #soporquesim, #bomdiamundo. Ou então, simplesmente, o efeito sépia ocupava as preferências.
Revoluções coloridas e sorridentes? Isso, só no estrangeiro. O estado novo ensinara-nos a ser contidos.
Mas para mim, isto foi época de leitinhos e colinhos. Deixasse-me estar descansada, que "a senhora fora lavar os coeirinhos à fontinha de Belém". Não havia motivo para receios e preocupações.

07.10.16

E eis-me aqui partilhando...


Maresia

E na calma dos meus dias de maternidade, eis-me aqui partilhando histórias e sentires através das palavras. E como eu gosto das palavras!
Na rotina tarefeira dos últimos anos, elas preferiram fugir e refugiar-se por aí, fazendo-me apenas visitas noturnas e madrugadoras. Houvera um equipamento que registasse os meus pensamentos de alvorada e já seriam muitos os livros e histórias escritos. Mas enfim, eles sumiam e eu deixava.
E agora, que a cegonha me brindou, mais uma vez, com um anjo doce e de sorriso fácil, permito-me a mais devaneios e os pensamentos, a par com as fraldas, biberões e canções de embalar, vagueiam por aqui, fazendo-me viajar.