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Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

08.10.16

Anos 80. À descoberta da (minha) vida.


Maresia

Ao que parece vivia na capital, Lisboa. Aqui havia de tudo! E rezava a cantiga, que era a cidade mais cheirosa de todas. E eu "farejava" para lhe tomar cheiro e as vistas.
Desgraçada da família do interior que não tinha os tecidos do Grandela, as loiças da Pollux e os atoalhados dos Armazéns do Socorro. Mas isso não era nada! Ir ao circo no Coliseu e Pavilhão Carlos Lopes, dar milho aos pombos no Rossio e Restauradores e conhecer pessoalmente o mais simpático senhor de barbas brancas, na mais mágica época do ano, em pleno Chiado, isso sim, era a sorte grande de qualquer meninice. Aos meus olhos de criança nascera priveligiada e não percebia porquê. Tios e primos lá tão longe, em vidas de ruas direitas e tão vazias, e nós aqui, neste rebuliço de "sobe e desce" e "não saias daqui, que é perigoso".
Mas numa das visitas, à altura, extensa família alentejana, descubro que a aldeia da minha mãe era mais pequena que a Gulbenkian. Aquilo fez-me espécie... Talvez por isso, achei que era um mundo de brincar, fácil de descobrir e de conhecer todos os seus recantos secretos e acima de tudo, encantou-me pela liberdade. As minhas pernas eram livres de correr pelas ruas, a roupa pesava menos no corpo e o barulho que as nossas brindeiras e risos geravam era delicioso. Semelhante, só no recreio da escola quando lá entrei, mas aí, as pernas não se cansavam tanto. Naquela terra amarelada, nada era perigoso ou incómodo. Os vizinhos, os senhores e senhoras alentejanos, seriam surdos ou verdadeiramente amigos da criançada?!
Mas era como a casa de bonecas que guardamos a um canto quando já não podemos brincar. Não era para levar a sério, pois a minha vida não era aquela.
Em Lisboa, o meu coração e as borboletas do meu estômago agitavam-se com os longos passeios pela cidade com o meu avô, com as idas à praça com a avó, com as idas a Benfica com a mãe e com as idas à Feira Popular com o pai. Cada local tinha um personagem principal. E eu sonhava que era para sempre...

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