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Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

03.09.19

Contos d'amor

Silêncios


Maresia

A rua estava escura, silenciosa, como se o tempo tivesse parado. Achava-se sozinha, com as lágrimas a correrem-lhe pelo rosto, as mãos cerradas e os olhos postos no imenso céu estrelado, quando sentiu que alguém se aproximara. Arrepiou-se, hesitou em girar o corpo, envergonhada pelo choro, sem saber como disfarçar.
O vulto avançou e colocou-se a sorrir à sua frente. Mantiveram-se em silêncio, naquilo que pareceu uma eternidade, até que se soltou um olá rouco, se esboçou um sorriso e se respirou fundo.
Existem pequenos momentos na vida que sentimos como mágicos, que se infiltram no nosso ADN, que na memória lhe sentimos o cheiro, este era um deles.
Quando o mundo desabava, quando o vento lhe levara tudo e todos, quando errara com todos, pois só assim fora possível acertar o seu próprio passo, quando amar tanto os outros, fora deixar de amar-se a si própria, aquele anjo de asas negras e sorriso fácil, que já achava perdido, surge na sua frente.
Não se conteve na sua fragilidade e chorou compulsivamente, mas agora, como alguém a quem a vida acaba de ser salva no último instante, e sentiu aquele abraço como um carga eléctrica de amor.
-Posso ajudar-te? - perguntou-lhe de sussuro ao ouvido.
-Por favor! - respondeu-lhe, enquanto lhe depositava um beijo no rosto.
E de mãos dadas, apertadas de emoção, seguiram rua abaixo, ambos sabendo que amanhã o Sol lhes brilharia, certamente, com outra graça.
Nessa noite, numa troca de silêncios e de dedos entrelaçados, entregaram-se num longo abraço e adormeceram aninhados, numa simbiose perfeita. Sabiam que jamais se largariam e aquilo que sempre sentiram no peito, só agora fazia sentido. A vida que lhes fugiu, foi a que os trouxera ali.
Aos primeiros raios de luz, demorou uns segundos a perceber onde estava. Sentiu então, o seu corpo, o seu pulsar, o seu respirar. E nesse momento, nervosa, trémula, apertou-lhe a mão e exclamou um bom dia, sem nunca o encarar. Ele devolveu-lhe o bom dia e esmagou-a num abraço contra si.
Então, aproximando-se do seu pescoço, respirou-a e encheu-a de beijos. E como numa dança, rodaram e lentamente se despiram através de carícias e de dedos devotos a descobertas de caminhos inusitados. E no beijo sôfrego entregaram-se um ao outro, primeiro a alma, depois o corpo.

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