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Olhei-te sem te ver.
Senti-te em mim.
O teu esboço gravou-se na minha tela,
Que espreito e me espreita aqui e ali.
És árvore que abracei, na qual me sento.
Respiro, gozo a sombra e a luz,
Mas que não ouso subir, com receio,
Do deslumbre da tua copa, do mundo que vislumbras no topo.
Desejo percorrer-me em ti,
Ser raiz que te prende em mim,
Mas não ouso.
Assim, vou aperfeiçoando o teu retrato,
Enamorando-me pelos teus traços,
Criando momentos imaginados,
Em que te percorro, te cheiro.
E finalmente, corajoso, te vejo adentro,
No fundo do olho e me perco
Para sempre.
Recebeste-me nos teus braços,
No teu barco, nas tuas marés.
Ondulámos ao ritmo da pulsação...
Entrelaçados numa dança,
Acelarámos ao bater do coração...
Mão na mão,
Pele na pele,
Boca na boca,
Olho no olho,
Alma na alma...
Atracámos juntos, seguros,
Exaustos, felizes.
Sorrimos.
Sorriste-me, sorri-te.
E sorriremos sempre...
À memória daquela viagem.
Arrepiados, estremecidos.
Pelo bom, pela saudade,
Para sempre...
Quero acreditar que na falta do teu beijo,
Sempre arranjas maneira de me fazer sorrir.
Quero acreditar que na falta do teu abraço,
Sempre arranjas maneira de me iluminar no escuro.
Quero acreditar que na falta de me agarrares a mão,
Sempre arranjas maneira de me salvar da queda.
Quero acreditar que na falta da tua força,
Sempre arranjas maneira de me dar coragem.
Queremos acreditar que sim.
Joaquim Mestre escreveu "Breviário das Almas", um título que me chega pelas mãos da sua aldeia natal, Trindade, concelho de Beja. Conto vencedor do Prémio Manuel da Fonseca 2008.
De leitura breve, mas intensa. De se perder o fio à meada, este breviário de vidas, de amores, de desfechos intensos. Fantasticamente perturbador, que no seu finalmente nos sorri e conforta.
Conto que nos remexe, nos guia e nos faz refletir no imenso que somos e no nada que nos espera.
E o cenário destas almas é temeroso, visionário daquilo que será o Portugal rural... pedras e casas silenciosas que encerrarão em si os nossos antepassados.
Um Mestre, este Joaquim.