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Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

31.12.20

Ano Novo Mágico...

Receita de Ano Novo, Carlos Drummond de Andrade


Maresia

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo"

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18.12.20

Natal, e não Dezembro, David Mourão-Ferreira

Um Feliz Natal, de mãos dadas.


Maresia
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, in 'Cancioneiro de Natal'
 

 

 
10.12.20

Forteleveza


Maresia

Erguerei as muralhas,
Memória sobre memória,
Conquista sobre conquista,
Sonho sobre sonho.
Nelas encerrarei meu tempo,
Meu ser, meu crer.
Elevarei aos céus na minha torre,
Soprarei ao vento os meus segredos.
Guardarei meu sangue,
Minha fortuna de sentires,
Meus passos, marcados nas pedras.
Fechar-me-ei, escudada...
Perto do firmamento, assente na terra,
Perdida em mim, no horizonte sem fim.

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05.12.20

Pela Vida


Maresia

Há portas que se fecham
Para nos trancarem cá fora,
Para nos arejarem.
É tempo de renovar,
De descobrir novos caminhos,
De procurar outras entradas e saídas,
De termos a coragem de rodar a chave de outros mundos,
De esventrar do corpo a força, da alma a coragem,
De sentir a destreza e luz que nos invadem.
Hora de rebentar cadeados, soltar ferrolhos e correntes,
Para que possamos ver o mundo,
Para que ele nos veja...
É tempo de renascer,
De abrir outras portas,
De soarem os sons de outros cantos da Vida.

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