A Imperfeição do Amor, de Joaquim Mestre
Um Romance Imperfeito
A Imperfeição do Amor é o segundo romance do autor Joaquim Mestre (1955-2009), que nos presenteou com uma escrita marcada pela originalidade e por uma ação labiríntica, que nos testa e nos encaminha a desfechos inusitados.
Partindo de um mundo onírico, mergulhando numa bruma de presságios e fenómenos, nasce a nossa história e o nosso personagem principal, Quico Regueiro, numa zona portuária impregnada de cheiro a peixe e de estranhezas. E talvez por Santiago de Compostela estar perto, a poucos quilómetros de Mazouco, se justifiquem as devoções e as aberrações, como sinais e mensagens divinas, a não serem ignoradas.
Uma narração acelarada, a várias vozes, com um toque sarcástico, de avanços e recuos, que com este ritmo caraterístico nos leva até estas vidas estranhas, de entranhas escurecidas e torcidas, com a de Frederico del Rio, a assombrosa e desconcertada do padre Ferrando, ou a da febre e de desejos mortais de Outisa. Vidas que se vão cruzando, enleando num emaranhado de coincidências e estranhezas. Um confúcio entre as leis da natureza e as almas penadas.
Mundos imaginários do sobrenatural, de mistério, sinais e mezinhas, de monstros e absurdos, de desgraças humanas.
E claro, o Amor, que surge do nada, sentimento que nascia e já prometia rebentar dentro dos dois, sem explicação e na mais imperfeita condição, consumado no mais tenebroso cenário. Os amores abençoados, desesperados, de súplicas a santos e de elixires de amarrações, os condenados... a fuga do amor que leva à morte, primeiro da alma e depois física.
Vidas consignadas a prisões sem grades, a consolos, a cartas de amor encomendadas. A imperfeição do amor nas vidas condenadas de Manoel de la Formoseda e de Quico.
A minha vida parece que tem à frente um muro alto e branco. Sinto-me esmagado pelo peso que colocaram em cima de mim. Penso em Ilena a toda a hora. Senti que ela poderia ser a minha liberdade.
O sonho de que todos podemos reescrever a nossa história e que nos podemos reerguer e soltar das tais prisões invisíveis em que nos fecham, mas também o pesadelo de estarmos entregues a maus presságios e condenados pelo amor. Histórias de vidas tão imperfeitas como o amor.
E nas páginas do Mestre, encontramos uma bela definição de Amor, mesmo que imperfeito: Bastou olhá-la para sentir que a minha alma entrava dentro dela e não queria sair. Nunca mais saiu. Não sei explicar, mas senti que nunca tinha tido uma certeza como aquela.