A infinita capacidade de amar
Perante mim me confesso
Vamos fingir que estamos todos felizes, impecáveis nas nossas roupas individuais e familiares, retas, sem vincos de imoralidade.
Preza-te pela honra, rege-te pelos olhos dos outros e verás onde isso te leva...
Quantos não passaram por este mundo presos a grilhões de regras sociais e de pesos de consciência, advindos de séculos de palavra de Deus, escrita por homens pecadores como todos os outros? Quantos não viveram fechados no seu silêncio, em submissão e opressão, debaixo de uma guilhotina de bem ser e bem parecer? Quantos não amaram, não riram, não conheceram o mundo, não se encontraram, porque os colaram ao chão?
No fim, naquele instante em que sentir que para mim terminou, que a lágrima de partir acompanhe o sorriso de quem viveu, amou e foi amada. Quero morrer sabendo que fui corajosa e que corri atrás de mim e da minha felicidade. Naquela hora, que o julgamento seja o do meu peito, da minha alma, da vida que escolhi para mim. E não a que outros, infelizes, tentaram parametrizar e apregoar que seria a de bem. A de bem para quem? Para os seus egos mesquinhos e cobardes, de quem não soube ser feliz, se elevarem e se sentirem mais moralizadores. Na tua condenação tu não me odeias, tu invejas a minha capacidade de saltar os muros, as falésias, os teus penhascos santificados.
Assim, continuarei a gritar a minha alegria, a minha dor, a minha tristeza, o meu bem e o meu mal. E só assim, assumindo cada sentir, cada imperfeição, cada derrota, eu estarei mais perto de mim e dos momentos felizes que fazem esta porra de vida valer a pena.
E todos que levo e passam no meu caminho, sabem, eu sei tão bem que sabem, que amei e me dei o mais verdadeiramente possível. E no que deixo para trás fica amor, não ódio, fica a certeza que o nosso coração, tal como este mundo, são infinitos na capacidade de amar.