Desabafos biográficos de uma vida
Corriam os finais dos anos 70, quando dei as caras por aqui. Portugal renascia dos cravos, mas permanecia sombrio e cinzento, como que ainda sob um céu carregado de nuvens Salazaristas. Pelo menos, aos olhos e aos ouvidos de quem espreita os registos da época e principalmente, pelas fotos que recheavam os álbuns lá de casa, provavelmente pelas roupas enfadonhas e papéis de parede de cores outonais que serviam de fundo aos sorrisos amarelos. Época longínqua na qual uma câmara fotográfica ainda causava um nervoso miudinho e que para muitos só saía da gaveta para momentos solenes ou dignos de registo. Não havia cá selfies #soporquesim, #bomdiamundo. Ou então, simplesmente, o efeito sépia ocupava as preferências.
Revoluções coloridas e sorridentes? Isso, só no estrangeiro. O estado novo ensinara-nos a ser contidos.
Mas para mim, isto foi época de leitinhos e colinhos. Deixasse-me estar descansada, que "a senhora fora lavar os coeirinhos à fontinha de Belém". Não havia motivo para receios e preocupações.