Diário da floresta
Contei o meu segredo às folhas,
Segredei-lhes os medos,
Gritei-lhes as alegrias.
Folhas, folhas, folhas!
Donas dos bosques, caminhos e margens,
Sabei vós que aqui sou eterna.
Mais uma de vós, que serpenteia ao vento,
Que escuta nos poros esta melodiosa vida...
O coro das árvores, dos riachos, dos bichos.
Folhas, folhas, folhas!
Recebei o meu poema de Vida,
O meu presente dos céus.
A minha árvore,
Meus ramos, meus versos,
Meu canto, Viver.
Águas, águas, águas!
Levai as mágoas,
Minha natureza morta.
Lavai minhas mãos e pés
Cansados e turvos da dor.
Céus, céus, céus!
Mandai-me a chuva,
Que rega meus sentidos,
Me arrepia e faz crescer os sonhos.
Abri o sol sobre mim,
Aquecei de brilho os meus olhos.
E despida, trigueira, abraçada de luz,
Tomarei a floresta,
Enterrarei a alma nos lençóis de terra,
Entrelaçada nos troncos,
Agarrada as vós, folhas!
Estrelas dos meus trilhos,
Guardiãs do segredo, Viver.