Greve, a que tanto obrigas...
Greve, a que tanto obrigas o Estado? Ah! Não! A que tanto obrigas o povo, os portugueses. E sim, para quem ainda não percebeu, nem todos os portugueses são funcionários públicos. A realidade do privado, recibos verdes e conta própria é bem diferente. Todos somos iguais, mas só na biologia, não na democracia.
Por exemplo, quando uma escola fecha, são as crianças e as suas famílias os mais prejudicados. E quando se regressa à escola, os programas curriculares são na mesma para cumprir e a matéria para testes e exames tem na mesma de estar sabida.
Na minha realidade, deparo-me com o egoísmo de um agrupamento escolar que não permite que o ATL - Eb1JI Portela de Sintra - mantenha o seu funcionamento em dias de greve no espaço escolar, mesmo havendo total disponibilidade do CAF/APEE (Componente de Apoio à Família / Associação de Pais e Encarregados de Educação) para o fazer. Nenhum funcionário da escola ou professor seria obrigado a trabalhar, mas pelos vistos, entra em colisão com os interesses grevistas de alguns, como se comunidade escolar tivesse dois lados de uma barreira. Estes pais e muitos outros pais deste país, sem a quem recorrer, desesperam por não ter com quem deixar as crianças, se lhes for permitido tirar o dia, vão perdendo dias de férias ou, simplesmente, veem os dias descontados no final do mês, colocando em causa o seu próprio emprego.
A greve deve afetar o funcionamento normal de um serviço, mas acima de tudo, deve atingir a entidade empregadora, o Estado.
Pois bem, nestes dias, o Estado poupa uns milhares de euros em ordenados, poupa na conta da luz e da água, no combustível, enfim, e os funcionários públicos ganham um fim de semana prolongado. Porque não greves à quarta?
Nos hospitais e centros de saúde, os doentes perdem dias de vida (no sentido abstrato e literal). Com a falta de transportes públicos, portugueses, impossibilitados de conseguir chegar ao trabalho, veem o salário reduzido. Contribuintes veem os seus direitos adiados.
Enfim, uns portugueses que pretendem lutar pelos seus direitos, acabam por atacar os outros, que pagam impostos como eles. O Patrão, esse, assiste de bancada, com direito a desconto no bilhete desse dia.
Em maio, deste ano, os motoristas da cidade japonesa Okayama fizeram um protesto, a sua greve, que consistiu em transportar todos os cidadãos interessados sem cobrar bilhete. Circularam normalmente, gastando combustível e mantendo o desgaste dos veículos, mas prejudicando a entidade empregadora e não os seus concidadãos.
Fica a sugestão. Protestar visando prejudicar e afetar o Estado. Fazê-lo ter despesa, não fazer entrar dinheiro nos cofres nesse dia, não cobrar pagamentos e taxas,... Pensar o protesto não com o vosso umbigo, mas com o de todos os portugueses.
E já que todos temos direito à contestação, aqui deixei a minha, pois também acredito na força das palavras.