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Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

Palavras de Areia ®

Partilha de sentires, emoções, aferições, estados de alma e coisas banais. Pequenas histórias de ontem, de hoje e que se sonham para o amanhã. Poemas meus e desabafos de amor e de vida.

29.08.19

Lado a lado


Maresia

Um ano, dez meses e vinte e sete dias nos separam. Certamente, não te recordarás da tua vida sem mim. Infância a nossa, de verdadeira irmandade, cumplicidade e de seguir em frente de mãos dadas. Mais para meu amparo e doutrina. Através dos teus olhos descobria o mundo e seguia os teus passos como lapa curiosa, chata e desvairada. Desculpa a tormenta perante as vontades e desaires desta irmã mais nova.
Crescíamos num mundo só nosso, lado a lado. Diziam-nos gémeas, mais pela malfadada indumentária igual que a mãe insistia, do que pelo todo. Sim, porque embora sempre juntas, tão diferentes no direito e no avesso.
Tu sonhavas com faraós e eu com cavaleiros de capa e espada. Talvez por isso, tu te tenhas tornado numa segura Cleópatra de olhos rasgados, ambicionando desvendar o segredo das pirâmides deste mundo e procurando imortalizá-lo no teu sarcófago de conhecimentos. E só mesmo uma relação próxima com deuses te faria tão sábia. Já eu, uma rebelde Lady Marion, sempre a subir à torre mais alta do castelo para sonhar o mundo lá fora, sempre a questionar e a argumentar o que me diziam ser e para ser.
Tu preferias a noite, a companhia da lua e das trevas. As manhãs querias de preguiça. Já eu, madrugadora, despertava com os primeiros raios de sol.
Horas de negociação para chegarmos a consensos lúdicos, musicais e cinematográficos. Nas horas de estudo, tu a precisares da tua banda sonora preferida e eu a implorar por silêncio.
Foi o sangue que nos uniu, mas foram as nossas dicotomias e brigas que nos uniram para sempre. Nunca desistimos uma da outra. Mais valia um braço torcido do que as costas viradas.
Por estes dias, andámos a vasculhar memórias, a arrumar uma vida que ficou lá atrás. Confesso que fico de coração partido, não sei viver sem me agarrar ao passado, às vidas que se esfumaram dos espaços e que já não posso beijar. Já tu, nunca foste beijoqueira. (Quantas vezes te imploraram para dar um beijo à senhora?) As tuas memórias são biografias históricas de feitos e conquistas. As minhas, autênticos romances impregnados de emoção.
Mas sem querermos ser iguais, no meio das nossas desavenças, estaremos sempre lado a lado. E aquilo que nos uniu jamais se findará.
Amo-te muito, mana!
Parabéns!!!

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