Nas asas
O vento trouxera-lhe a mensagem naquele dia. Fora ele que despertara as portadas da janela e estas, sonoras, a despertaram a ela, arrancando-a de um sonho matinal, de um qualquer mundo paralelo de encontros desejados, temidos ou, simplesmente, imprevistos.
Rebolou na cama, sorriu e sentou-se. Estremunhada, despenteada, feliz.
Hoje, levantar-se-á nua, não só de roupa, mas de ontens. Quando colar os pés no chão frio e real, os seus passos serão os primeiros de novos dias, como uma criança que aprende a andar, que faz novas descobertas, que abraça novos mundos. Hoje, rebentarão de si asas de metamorfose, prontas para novos voos. Abrir-se-ão imponentes, baterão tão fortes que empurrarão para longe, com a sua força, as réstias de correntes que a prendiam, que esmagarão as sanguessugas que lhe chuparam a alma. Elevar-se-á nos ares, rompendo grades, rasgando os céus.
O vento mensageiro acompanhará a sua saga, soprará favoravelmente e, quando o dia terminar, estará coberta de luz, arrepiada de paixão, abraçada de amor.
Imagem: brianna-damra.tumblr.com