O Meu Caminho
De novo no Caminho de Santiago...pela escrita e com o coração
Um dia, descobri o Caminho de Santiago. Espreitei-o, sorri-lhe e guardei-o num cantinho de mim como algo inspirador. Anos mais tarde, redescobri-o ou melhor, ele foi-me espreitando, sussurrando, aqui e ali, e um dia, percebi que era este o desafio, o alento, o sonho mais breve que eu queria, que eu precisava desesperadamente de concretizar. Eu, só eu e o Meu Caminho. E assim, respirei fundo, acrescentei uns quilómetros às minhas caminhadas diárias e em poucas semanas delineei o meu rumo, o meu mapa. A primeira escolha, sem hesitações, recaiu no Caminho Português da Costa… se algo havia a acrescentar ao meu deslumbramento pela estrada, o trilho, o verde, o bosque, a floresta, seria o mar, o meu mar. O ar puro é inspirador, mas se lhe juntarmos a maresia e a mais bela banda sonora de Neptuno, de ninfas e marinheiros, somos levados por ventos favoráveis.
O ponto de partida, Caminha, eu e o meu coração português a velejar rumo à Galiza, para conquistar os meus sonhos e me deslumbrar com um mundo novo. A Guarda e Mougás, as primeiras conquistas, provas de fogo, ao sabor do vento e das ondas. E assim, perfumada e salgada alcançaria, Nigrán, Vigo e Redondela. Aí, seguindo a Estrela Polar por veredas, bosques, pontes e estradas romanas, a chegada a Santiago de Compostela e um reencontro marcado comigo mesma. As pernas a pesarem, todo o corpo um queixume, mas o coração a palpitar, os olhos a brilhar de luz e lágrimas, um chorar a sorrir pelo fim, mas também, por um novo recomeço. A pessoa que ali chega não é certamente a mesma que sonhou um dia fazer o Caminho de Santiago. E assim foi.
Dez dias, dez etapas, dez desafios, dez conquistas, dez dias de ouro para rechearem este tesouro, que é a Vida.
E assim, vou rabiscando e tecendo uma manta de memórias, sonhando que um dia se tornem páginas de um livro, com cheiro a papel, pinhal, terra molhada e maresia.