Parabéns, mana!!!
Querias uma mana para brincares, quando todos queriam um rapaz para a família. Gosto de pensar que pediste com "muita força" e que o teu desejo se tornou realidade. E eu cheguei, mas não foi só para brincarmos juntas... fui chata até à última casa. Desculpa, penúltima. Pois quando eu percebia que estava quase na hora hora de acabar a brincadeira, dizia-me farta e tu tinhas de arrumar a "cangalhada" toda (nome engraçado este, com o qual os adultos apelidavam os nossos brinquedos).
Aturaste as minhas birras, os meus espetáculos, fizeste-me as vontades. Quando te irritava, era hora da bulha e tendo eu menos força, foste uma verdadeira vítima da minha dentada. Um dia, convenceste-me que eras um robot que substituira a minha irmã (a coisa demorou, mas fiquei certa do teu desaparecimento). Recordo os nossos festivais da canção, as coreografias, as minhas gritarias, sempre desenfreadas e emocionadas, apoiadas pela aparelhagem que eu avariava mil vezes e mil vezes tu arranjavas. As cassetes que me gravavas, pois as músicas sempre as devorei, mas quem detinha nomes e álbuns eras tu. As "mixadas da marta", era sim que escrevias na caixa.
Lembro-me do meu desgosto, pois queria ler as legendas dos filmes, mas ainda não sabia. Só tu lias, contavas a história, recontavas. As letras em inglês que tu me traduzias pacientemente. Lembro-me de ter ficado encantada com as canções do Richard Marx quando ele foi ao programa do Júlio Isidro, apesar de não perceber nada, e tu, que já estavas a aprender inglês, contavas como se fosse uma história. E aquela de Hazard era bem estranha. Talvez por isso, ainda hoje, cada canção, cada letra, para mim, é uma história. Faço o filme todo.
Mais tarde, levavas-me para todo lado, do alto dos meus 11/12 anos lá ia eu atrelada, com muita altura e pouco juízo. Os concertos em Alvalade...o Bryan Adams fez as honras da casa e nunca mais parámos. E a mãe deixava, afinal, na altura até se ouvia lá na rua. O dos Metallica então, esse ouviu-se tudo. Sabes, na verdade ela gostava de os ouvir e lá nos deixou ir. Lembro-me que quando queríamos sair, tinhas de ser tu a pedir. Pois nunca fui capaz de mentir e se queríamos inventar uma festa de aniversário da prima afastada de alguém, para dar uma saltinho ao Rookie ou ao Alcântara, tinhas de ser tu a dar a cara, eu atrapalhava-me logo. Ajudavas-me com os namoricos, aturavas os meus desgostos. As noites de Oceano Pacífico e 100 páginas de diário escritas. Diários esses, que só tu sabias onde estavam, mas nunca leste, não precisavas, eras a minha guardadora de segredos.
Mais tarde, não te dei ouvidos, soltei-me da nossa corda e saltei. E que salto, que queda, e mais tarde quando me quis levantar sozinha, decidida, tu recusaste o não. Ajudaste-me a encher o carro e deitaste-me na tua cama. E foi assim durante algum tempo. Chegava cansada e ficava na tua cama e tu sentada na tua secretária escutavas os meus silêncios e enchias o meu vazio com livros, música e filmes. E foi assim que tiveste que ver dezenas de vezes o início do Gladiador. Foi assim que vi A Cidade dos Anjos e que chorei que nem uma perdida chateada contigo, com a porcaria de final e que me agarrei para sempre a outra Sarah e ao seu Angel. E assim, mais uma vez, levaste-me a sair, a ouvir música, a dançar, a sorrir. Depois nasceu o Francisco e tudo mudou... acho que deixámos as duas de ser as miúdas e tu foste uma super tia. Passaste a fazer sorrir o meu filho. Era com ele que vias os filmes e ouvias as músicas (desta vez, bem coloridos e sem letras para traduzir). E ele ocupou a tua cama, o seu trampolim favorito.
Com o tempo a escorrer à nossa volta, tudo foi mudando, todos foram enfiando a cabeça nas suas vidas de adulto e nós nas nossas diferenças (bastantes) fomos vivendo os nossos mundos, sendo que eu sempre quis voar (and you were the wind beneath my wings). Estiveste comigo nos momentos mais importantes, nos mais duros, no meu crescimento, no meus estudos, no meu trabalho.
Agora tens o teu ninho, és mãe, o teu foco de luz é o teu príncipe. Agora perceberás ainda melhor, que podemos sorrir pelos olhos dos nossos filhos, que ser mãe me foi afastando do meu papel de irmã mais nova e chata. Agora são eles que ouvem as minhas piadas, é com eles que gozo, são eles que me ouvem cantar e é neles que me revejo.
Cuida de ti, sê feliz e luta pelos teus sonhos!
Parabéns, mana!!!